No aclamado filme Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, uma das cenas mais violentas é quando o bandido Zé Pequeno encurrala dois meninos moradores da favela e pede para eles escolherem tomar um tiro no pé ou na mão.
Mesmo depois de dez anos do lançamento, a maioria dos fãs do filme se lembra facilmente desta sequência. Mas o que muita gente pode deixar passar despercebido é que um dos meninos é Micael Borges, hoje no ar como Pedro em Rebelde(Record).
O R7 conversou com o ator nos bastidores da novela no RecNov, no Rio de Janeiro, e ele fez um balanço desses dez anos do filme e as mudanças que sua vida sofreu durante esse período.
Micael é carioca, hoje tem 24 anos, e é cria do grupo teatral Nós do Morro, do Vidigal, na zona sul do Rio. Muitos de seus amigos de infância integraram o elenco de Cidade de Deus e vários seguiram na carreira, como Thiago Martins, Roberta Rodrigues e Jonathan Haagensen. Mica fez questão de afirmar que mantém relação com a “família”, como ele chamou.
Abaixo, leia a entrevista na íntegra:
R7 - O que o filme representou para você e para sua carreira?
Micael Borges - O Cidade de Deus não mudou só o cinema brasileiro, mas a vida de quase todos os atores. Teve gente que foi trabalhar fora do Brasil, gente que começou a seguir outras direções no cinema. Os atores do Nós do Morro [grupo teatral do Vidigal, na zona sul do Rio] começaram a ser vistos com outros olhos, começaram a fazer TV e ter mais abertura. O filme veio mesmo para abrir as portas para todo mundo que participou.
R7 - O que você se lembra nessa época?
Micael Borges - Eu era muito pequeno, mas foi uma baita experiência. Eu já fazia teatro e estava acostumado só com aquilo. Não tinha muita noção de nada. Mas já sabia o que era o universo, já tinha feito vários testes. Quando a gente foi chamado para fazer a oficina para o filme, tudo mudou. A gente tinha que acreditar e viver o personagem. E só me ajudou a querer seguir nesta carreira.
R7 - Você se lembra de alguma história dos sets de gravação?
Micael Borges - Eu me lembro que era divertido acordar às 4 horas com meus amigos e ir para preparação passar o dia inteiro. Para as filmagens também. A gente acordava de madrugada, ia para o set de filmagens juntos. Todos eram meus amigos de infância, lá da galera do Nós do Morro. Eu me lembro que trabalhar com meus amigos era a melhor coisa.
R7 - Você chegou a ver o filme do Cavi Borges sobre os dez anos do CDD?
Micael Borges - Vi, sim. Eu não consegui dar o depoimento para os dez anos porque estava gravando e não consegui agenda. Mas fiquei feliz porque eles estão mostrando a vida de quase todos depois do filme. É uma iniciativa bacana.
R7 - Com quem você ainda tem contato?
Micael Borges - Tenho com o Thiago Martins, que é meu amigo de infância e com vários outros. Jonathan Haagensen, Roberta Rodrigues, Mary Sheila de Paula, Sabrina Rosa... Todos que participaram do filme eu ainda falo. Mumuzinho, que hoje é cantor, Leandro Firmino, Luciano Vidigal... É uma família. Por mais que no dia a dia a gente esteja longe, quando a gente se vê a gente resgata a amizade forte.
R7 - E com o Meirelles?
Micael Borges - Com ele não. Até porque foi muito rápido.
R7 - E você tem vontade de fazer cinema de novo?
Micael Borges - Tenho muita vontade. Eu adoro. Por incrível que pareça eu dei muita sorte e, ao mesmo tempo, muito azar. Eu conseguia pegar personagens no cinema, mas, de alguma forma, eu não conseguia fazer porque tinha que optar por outro trabalho. Naquela época, o lance do dinheiro contava muito. Não dava para ficar só fazendo filme. Mas eu tenho muita vontade, sim. Quando acabar Rebelde, eu penso em dar uma transformada no visual e correr atrás de testes.
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